terça-feira, 12 de maio de 2015

O que nunca podes dizer quando corremos juntos!


De todas as pessoas com quem já corri lado a lado, és aquela que mais me irrita. Não leves isto a peito, meu amor, mas a zona de conforto que tenho contigo permite-me mostrar-te todas as minhas fraquezas durante os treinos. É um bocadinho como as crianças, que só se portam mal com os pais presentes, e que com desconhecidos são uns doces de meninos. Sou assim contigo, a correr. Uma menina mimada.
Claro que gosto quando puxas por mim, quando me dizes vezes sem conta que sou capaz, que tenho evoluído muito, que sou espectacular. Uma espectacularidade que só os teus olhos vêem, porque continuo de gatas depois de um treino de 5km, tanto como de um treino de 15km.
Gosto dos elogios, claro que sim, e sinto-me no topo do mundo com eles. Mas há pequenos detalhes que me tiram do sério e que se os escrever, talvez consigas percebê-los sem correr o risco de ser interrompida, a saber:
- Irrita-me que tagareles enquanto corremos juntos, porque da minha boca só saem esgares de sofrimento. Falas do tempo, do que vamos comer a seguir, dos ténis maravilhosos que tens nos pés, do periquito e do papagaio e eu ouço-te num monólogo ensurdecedor, uma ladainha que começa a zunir aos meus ouvidos e que só quero que acabe. A tua boa disposição dá conta de mim, quando eu só quero vomitar. Pronto, já disse;
- Chateia-me que comeces a gritar instruções de comando, tipo "bora!!", "vá, vamos lá!", "tu és capaz, a tua cabeça é que manda no teu corpo!" e mais pérolas do género. Para começar, a minha cabeça ainda não manda no meu corpo no que toca à corrida. E sou alérgica ao tom de comando, seria uma péssima recruta. O mimo que tenho neste corpo dá-me para fazer exactamente o contrário: sentar-me à sombra da bananeira e chorar;
- Enerva-me que me perguntes porque estou a chorar, quando até a borboleta conhece as razões. Tenho falta de ar e uma vontade louca de gritar impropérios, mas nem a voz me sai. Enquanto isso, perguntas-me porque choro. Choro de irritação, de frustração comigo própria e de não ter, sequer, forças para gritar contigo;
- Maça-me o teu ar fresco e solto quando acabamos um treino juntos. Eu estou literalmente de língua de fora e tu estás capaz de fazer uma pega de caras.

Fora isto, adoro correr contigo. E adoro-te.


Marta

2 comentários:

  1. Curioso, tenho lá uma em casa que se acho que é igualzinho quando treino com ela :D

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  2. Foi por algumas assim e ainda mais outras quantas que deixei de treinar com o meu marido!!

    Mas continuo a adorá-lo! ;)

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